“O PESSOAL PEGA UMA OBRA E SE VENDE”, DIZ GILBERTO LIXEIRO PARA JUSTIFICAR PORQUE NÃO SERÁ MAIS CANDIDATO A VEREADOR

João Justino
Especial para o Notícias Gerais

Eleito pela primeira vez em 2008, o vereador Gilberto Lixeiro (PSL) completa quase uma década de mandatos consecutivos na Câmara de São João del-Rei com um final pouco esperado. “Nem vereador eu quero ser mais. Sou assessor do deputado Doorgal [Lafayete Andrada, do Patriota]. Não sou candidato a vereador nesse pleito. Me erra!“ respondeu a vereadora Lívia Guimarães (PT), em discussão na reunião desta semana (22).

Ao longo da vida parlamentar, Gilberto quase perdeu o mandato na CPI que apurou denúncia sobre recepção ilegal do bolsa família – e deixa como legado 43 leis aprovadas até a data da publicação desta matéria. Algumas chamam atenção por não encontrarem a realidade, como por exemplo a obrigatoriedade da publicação de itinerários dos ônibus na placa dos pontos (PL 5.619/2019) e a que dispõe sobre a instalação de detectores de metais em escolas com mais de 200 estudantes (PL 4.737/2012). 

Ao Notícias Gerais, o vereador informou faltar esforços da prefeitura. “Uns querem dente por dente de um lado, outros querem ser honestos, estão lá brigando… Aí os grandes projetos que a cidade quer, o executivo não quer. Aí o que o pessoal faz?! Pega uma obra e se vende” denuncia.

“Uns querem dente por dente de um lado, outros querem ser honestos, estão lá brigando… Aí os grandes projetos que a cidade quer, o executivo não quer. Aí o que o pessoal faz?! Pega uma obra e se vende”

Apesar de trabalhar na base dos governos que o acompanharam, Gilberto declara independência. “O povo não quer asfalto sobre asfalto. O povo quer melhoria”, comenta. Diz que se for necessário, “mete o pau” no prefeito Nivaldo Andrade (PSL) – o que não reflete a posição dos seus votos, que acompanham a base do governo na Câmara. 

Com força no gogó, Gilberto é conhecido por criar chavões como o que o elegeu. “Sou o único vereador-lixeiro com três mandatos no mundo. O único negro da Câmara com três mandatos”, conta com orgulho.

Para encerrar o mandato, Gilberto quer reverter o projeto votado em 2017 que concede aumento de salários aos vereadores. Em 2019, ele protocolou um pedido de anulação desta votação. A proposta corre nas redes, mas ainda não tem data para votação.  

Sem troca-troca, mas nem tanto

“A política daqui é toma lá dá cá. ‘Faz um asfalto e eu vou votar nas suas coisas’. Eu não quero isso para a cidade e não quero isso pra mim”, afirma. No entanto, o vereador possui três cargos de confiança na Secretaria de Esportes. “Estão correspondendo com o dinheiro que ganham. Tão trabalhando”, justifica. 

Segundo Gilberto, a indicação aconteceu sem seguir critérios técnicos, mas por terem trabalhado na campanha de 2016. O vereador entende esta como prática comum de qualquer governo e rechaça os que tentam tirar vantagem do cargo de confiança. “Mês passado eu denunciei o Cláudio Coalhada. Ele tava recebendo comissão de eventos. Denunciei no MP [Ministério Público] e mostrei pro prefeito Nivaldo”, informa.

Para ele, o ideal é trabalhar diretamente com verbas parlamentares do Estado. Seu próximo objetivo, inclusive, é conquistar uma cadeira de deputado estadual nas eleições de 2026.

“Eu saio na frente, com mais facilidade para fazer na cidade, porque tenho uma verba parlamentar do deputado [Doorgal], que ele manda pra mim”. Segundo o vereador, ano que vem, chega uma emenda de R$500 mil e um ônibus, que será indicado para atender estudantes da Zona Rural. 

Apesar de criticar o jogo, Gilberto se encontra na ponta-de-lança da rede de trocas. Pode estar se desconectando com a instituição municipal para se associar a figuras mais poderosas, como os parlamentares da família Andrada – conhecida por estar na política quase 200 anos– sem impedir a roda que o faz desistir da Câmara de Vereadores.

Quebra de recorde de liberação de emendas

Segundo o Portal da Transparência, o governo Bolsonaro já liberou R$9,79 bi de reais. Uma estratégia para agradar os deputados que formam o centrão e manter a aprovação de suas propostas. Para se ter uma ideia, são R$4,67 bilhões a mais do que o governo de Michel Temer – já conhecido por quebrar recorde em gastos com emendas. 

Do bolo, o deputado Doorgal Lafayete Andrada recebeu aprovação da sua fatia, com R$15,9 milhões em recursos – com destaque para o Fundo Nacional de Saúde, que liberou quase R$6 mi para o parlamentar.