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UFSJ PESQUISA RISCOS DE SE MANTER REMÉDIOS VENCIDOS EM CASA

Imagem: divulgação

Assessoria de Comunicação UFSJ

É comum que as famílias brasileiras tenham uma “farmácia caseira”, em que guardam e organizam os medicamentos de uso diversos que se acumulam com o tempo. No entanto, nem sempre estamos atentos ao prazo de validade desses remédios ou ao risco que corremos por tê-los em casa. 

A prevalência de medicamentos vencidos nas residências foi tema de uma pesquisa desenvolvida no curso de Farmácia da UFSJ – Campus Centro-Oeste Dona Lindu. O artigo Prevalência e fatores associados à presença de medicamentos vencidos em estoques caseiros foi publicado no Caderno de Saúde Coletiva e pode ser acessado on-line. As autoras são as estudantes Mayra Rodrigues Fernandes, Rafaela Silva Rocha, Isabella Ribeiro Silva e Roberta Carvalho Figueiredo.

Orientador da pesquisa de iniciação científica que gerou a publicação, o professor André Baldoni sustenta que a reserva de medicamentos vencidos em casa pode ser considerada um problema social. “Eles oferecem riscos para a saúde humana e ambiental pois, se utilizados, podem gerar respostas negativas inesperadas, como inefetividade terapêutica e evento adverso desconhecido.” Destaca também o risco ambiental do descarte desses medicamentos no lixo comum. Se você tiver remédios vencidos em sua casa, deve entregá-los em uma farmácia ou drogaria.

No artigo, lê-se a contextualização a respeito do consumo e venda de produtos farmacêuticos no Brasil. A garantia de assistência terapêutica integral é um dever do Estado, o que justifica os investimentos anuais do Ministério da Saúde: entre 2013 e 2014, o orçamento destinado à assistência farmacêutica passou de R$ 1,9 bilhão para R$ 12,4 bilhões. No entanto, dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que, em escala global, mais da metade dos medicamentos é prescrita, utilizada ou descartada indevidamente.

Método e conclusões

Realizada entre usuários do SUS em Divinópolis, a pesquisa reuniu informações de de 423 “estoques caseiros”, encontrando 4.203 medicamentos no total. O objetivo foi estimar a prevalência e os fatores associados a ele. Em média, foram 10 medicamentos por residência, sendo que em 45,4% delas havia medicamentos vencidos. A conclusão da pesquisa aponta que a própria classe terapêutica e o comportamento dos usuários estão relacionados a esse fenômeno.

Foi feito um estudo transversal com pessoas que utilizam os serviços da assistência básica em saúde, no município de Divinópolis. Com 217 mil habitantes, a cidade possui 34 centros de saúde e cinco farmácias públicas. As autoras entrevistaram pessoas com 18 anos ou mais, excluindo aquelas que vivem nas zonas rurais ou em bairros com maior taxa de violência urbana. Por fim, definiu-se, por sorteio, 15 unidades de saúde como locais para o levantamento de dados.

As entrevistas ocorreram entre setembro de 2014 e agosto de 2016, com voluntários que aceitavam participar da pesquisa. O professor André Baldoni justifica o intervalo temporal: “devido à robustez metodológica, à dificuldade de recrutamento dos participantes e à representatividade da amostra.” No total, foram entrevistadas 423 pessoas. Informações detalhadas a respeito da metodologia, como as variáveis de estudo, estão postas no corpo do artigo.

A maioria dos participantes (83%) eram mulheres, com idade entre 19 e 93 anos, e Ensino Fundamental completo (70%). O total de medicamentos encontrados em cada residência variou entre 1 e 44, se considerados tanto remédios de uso contínuo quanto os de uso esporádico. Estes foram os mais prevalentes, com destaque para analgésicos, antimicrobianos, antiespasmódicos e antieméticos. Destacam-se também os protetores gástricos, como o omeprazol.

Papel da indústria e importância do racionamento

O artigo destaca ainda um fator determinante para o acúmulo de medicamentos vencidos: a falta de racionamento desses produtos. Por exemplo: um paciente que busca atendimento em uma Unidade de Saúde e volta para casa com uma receita de um antibiótico pode não consumir todos os comprimidos disponíveis na cartela. Porque os próprios medicamentos são comercializados em quantidades exatas que não necessariamente se adequam à prescrição médica.

“Os setores envolvidos na produção e comercialização de medicamentos, como a indústria e as drogarias, em sua maioria negligenciam as questões”, aponta o professor André Baldoni. Há dois aspectos fundamentais, de acordo com o pesquisador: o não-racionamento dos produtos e a não-coleta-reversa, ou seja, as drogarias não assumem o ônus do recolhimento e posterior descarte desses produtos. Por outro lado, a fiscalização dos órgãos de Saúde não tem conseguido influir na prática da farmácia caseira.

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