Kamila Amaral e Najla Passos
Notícias Gerais
Os trabalhadores com ensino médio completo e idade entre 30 e 39 anos foram as principais vítimas da crise econômica provocada pela pandemia da Covid-19 em São João del-Rei. Só nos meses de março, abril e maio, 1.765 trabalhadores do município perderam seus empregos, sendo 1.338 deles dos setores de comércio e serviços.
Os dados fazem parte do boletim Mercado de Trabalho São João del-Rei, lançado nesta quarta (8), pelo Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão em Economia (NEPE), da UFSJ. A pesquisa, trimestral, é coordenada pelos professores Douglas Marcos Ferreira e Gustavo Carvalho Moreira, coordenador e vice-coordenador do NEPE/UFSJ, respectivamente.
“Tal fato é reflexo da pandemia, que obrigou muitos comerciantes a fecharem seus estabelecimentos e demitirem os funcionários em meio à crise”, aponta o boletim. Foi o caso do empresário Luiz Carlos de Bessa que demitiu as duas funcionárias e agora trabalha com o filho.
Dono da Loja de Variedades Ana Presentes, localizada na Av. Josué de Queiroz, no bairro Matozinhos, Bessa explica que mesmo com a medida do Governo Federal, que paga o salário dos funcionários de pequenas e médias empresas durante dois meses, não era viável manter as funcionárias. “O governo paga o salário, mas e as comissões? E as férias? O 13º Salário?”, questiona.
Bessa também se mostrou receoso quanto à reabertura do comércio são-joanense, anunciada para acontecer na próxima segunda (13). “A gente abre, mas e se daqui a dez dias tiver que fechar de novo?”, indaga o comerciante. Atualmente, a loja está funcionando com o atendimento sendo realizado a portas fechadas.
Acácia Ribeiro Madureira, proprietária de uma Hamburgueria, também na Av. Josué de Queiroz, foi outra que precisou dispensar seu funcionário durante a pandemia. “Era um funcionário, com carteira assinada, e os motoboys (entregadores). Os motoboys continuam porque são terceirizados”, explica.
Madureira conta que mesmo que, mesmo não tendo que fechar seu estabelecimento, que é serviço essencial, o faturamento atual está em torno de 20% do que era. “Eu não tive que fechar, o que a gente teve que fazer foi atender com a porta abaixada e uma divisória”, sinaliza.
A proprietária da Hamburgueria Explosão de Sabor lembra que já ocupa o ponto há mais de um ano e que mesmo tendo um funcionário com carteira assinada não recebeu qualquer tipo de auxílio. “Não consegui nenhuma ajuda do governo”, afirma.
Impactos da pandemia
Segundo a pesquisa, o mês de março foi o de pior desempenho do trimestre, com 713 demissões. Os meses de abril e maio apresentaram 662 e 390 demissões, respectivamente, totalizando as 1.765 demissões no período.
“Com isso, o município de São João del-Rei apresenta o menor saldo de empregos formais da série histórica desde janeiro de 2019. Em maio de 2020, foram contabilizados 16.040 vínculos formais de emprego no município”, diz a pesquisa.
Dos setores pesquisados, apenas o de construção apresentou saldo positivo, com um total de 149 empregos gerados e 125 demissões. Portanto, um saldo de 24 novos postos de trabalho. Já os demais segmentos apresentaram saldo negativo.
A pesquisa aponta, entretanto, que apesar do alto número de demissões, São João del-Rei também registrou algumas contratações, o que garantiu que o saldo final do desemprego ficasse um pouco menor. No total, a cidade perdeu nos três primeiros meses de pandemia 944 postos de trabalho.
Perfil dos desempregados
Dentre os trabalhadores menos afetados pela crise resultante da pandemia, estão aqueles com ensino superior incompleto e completo. No primeiro caso, os demitidos foram 32 e, no segundo, 38.
