Redação
Notícias Gerais
Sangue novo na política são-joanense, Mara Protetora de Animais (PSC) foi eleita com 609 votos, defendendo a causa animal. Seu apoio é crucial para que o prefeito tenha maioria de votos na Câmara de Vereadores, já que, conforme ele mesmo afirma no áudio, só deverá contar com oito dos 13 vereadores nesta legislatura.
Dentre os vereadores eleitos, votam com o prefeito – sem sombra de dúvidas – o filho dele, o vereador reeleito com 1.330 votos, Weriton Andrade (PSL), o pré-candidato à presidência da Câmara, Stefanio Pires (PSL), reeleito com 1.207 votos, Rosinha do Moto Taxi (PSL), eleita com 1.287 votos, Dondom (PRTB), reeleito com 1.131 votos, e conforme o próprio prefeito, o vereador Sargento Machado (PRTB), que obteve 1.076 votos nestas eleições.
Na conversa publicizada pelo áudio, o prefeito reeleito dá a entender que não contará com o apoio de pelo menos dois vereadores: Lívia Guimarães (PT), reeleita com 1.525 votos, e o novato Fabiano Pinto (DEM), eleito com 641 votos.
Contrários às barganhas
Campeã de votos destas eleições 2020, Lívia é desafeto antigo do prefeito, por manter uma postura independente e crítica na atual legislatura. Na gravação, ele fala dela com rancor: “A Lívia tem o segmento dela, ela teve esses 1.500 votos […] Na época do Helvécio [Helvécio Luiz Reis, prefeito de São João de 2013 a 2016, pelo PT], ela teve 1.200 votos, aí apoiou tudo que o Helvécio fazia… Nivaldo é ruim, mas Helvécio era o bom”.
A vereadora reeleita, que tomou conhecimento da existência do áudio neste final de semana, ao ser contatada pelo Notícias Gerais, ficou estarrecida com o conteúdo. “O áudio mostra, de forma escancarada, como o Nivaldo usa a estrutura da prefeitura, oferecendo principalmente cargos e favores, nas negociações para se ter uma base e eleger o presidente da Câmara que lhe convém”, afirma.
“O áudio mostra, de forma escancarada, como o Nivaldo usa a estrutura da prefeitura, oferecendo principalmente cargos e favores, nas negociações para se ter uma base e eleger o presidente da Câmara que lhe convém”
– vereadora reeleita Lívia Guimarães (PT)
Segundo a vereadora, esse tipo de negociata foge da normalidade, da prática da boa política, porque o vereador deixa de lado os interesses da população e passa a votar somente de acordo com os interesses do prefeito. “É por negociatas assim que a CPI do Damae não foi aprovada e tantos outros projetos ou propostas foram recusadas, pois o prefeito tem grande parte da sua base à mercê de sua vontade”, avalia.
Lívia atesta que a prática não é nova, mas espera que o escândalo provocado pelo áudio faça com que alguns vereadores revejam suas posturas. “Apesar de já termos denunciado essa prática aqui na Câmara, é a primeira vez que chega a público um áudio como prova de como as negociatas são feitas. E por não concordar com essa prática que sou considerada oposição. Com essa divulgação espero que os alguns vereadores mudem sua postura e se lembrem que foram eleitos para legislar em favor do povo e não por troca de cargos na prefeitura”, conclui.
Já Fabiano Pinto, de acordo com depoimento do próprio Nivaldo, não aceitou a oferta do Executivo de trocar apoio político por cargos e votos. “Tem um menino ali que é maldoso, aquele que ganhou no Bonfim, com 500 votos [em referência a Fabiano Pinto]. Ele ganhou junto com o médico lá, ele já chegou na reunião com o Igor [Igor Sandim, vereador reeleito com 1.380 votos], falando que ‘asfalto, nada me compra’… Ih… e eu chamei, igualzinho tô te chamando, e não levou nada de obra, não levou nada de asfalto”, contou Nivaldo à Mara na gravação.
Em entrevista ao NG, Fabiano Pinto confirmou o conteúdo da conversa e disse que o prefeito lhe ofereceu cinco cargos e R$ 400 mil em asfalto em troca de apoio político. Fabiano declara que não aceitou a proposta: “é verdade que eu neguei, e continuo negando”. Nossa equipe pediu mais informações sobre a conversa, mas o vereador preferiu não entrar em detalhes.
Especulação sem base
Outro vereador citado na conversa é Rogério Bosco (PT), eleito com 473 votos pra a base de oposição do prefeito. Em determinado momento do áudio, Nivaldo é questionado por Mara sobre quanto apoio tem na Câmara, sobre quantos vereadores votam com ele.
“Chega, oito chega. Não chega a nove. Porque sem o prefeito, aquele menino da Zona Rural que ganhou, se ele não fizer nada, ele nem precisa voltar lá mais (…) aquele do PT, do Rio das Mortes. O Rogério, assim, na Zona Rural, se ele levar máquina, asfalto, tudo, essas coisas, ele é reeleito. Se não levar, não tem nem 50 votos”, disse Nivaldo.
A especulação do prefeito, porém, é prontamente desmentida por Rogério, que confirma que recebeu uma ligação do prefeito, depois das eleições, parabenizando-o e oferecendo cargos e obras em troca de apoio. Ele sustenta que desconversou imediatamente.
Em nota encaminhada ao Notícias Gerais, ele assegura que não participou de reuniões com o prefeito. “Em nenhum momento participei de reuniões com o mesmo e demais vereadores da base aliada. O único contato que tive com o prefeito, após minha eleição, foi uma ligação feita por ele no dia 16 de novembro em que me parabenizou pela eleição”, diz Rogério.
No documento, o vereador reafirma os compromissos da sua campanha. “O meu mandato será regido sob os pilares da ética, da transparência e da honestidade. Fui eleito pelo Partido dos Trabalhadores e desejo construir um mandato coletivo com maior participação popular. Assim quero legislar a favor de todo o povo de São João del-Rei, garantindo aprovações de políticas públicas que visam acima de tudo, a melhor qualidade de vida dos são-joanenses”, diz.
Rogério ainda reforça que não assumirá compromisso com a atual gestão visando benefícios pessoais. “Afirmo que não participei e não participarei de negociações obscuras em detrimento de uma reeleição. A minha trajetória pessoal se encontra com a minha trajetória política e não tenho como objetivo fazer da política uma profissão”, conclui.
“Afirmo que não participei e não participarei de negociações obscuras em detrimento de uma reeleição. A minha trajetória pessoal se encontra com a minha trajetória política e não tenho como objetivo fazer da política uma profissão”
– cita vereador eleito Rogério Bosco (PT)
O “professor vota com a gente”?
Quando questionado por Mara sobre quantos vereadores votam a favor do governo na Câmara, Nivaldo afirma que chega a oito – portanto, a maioria dos 13 vereadores. De acordo com o prefeito, isso é possível porque o “professor vota com a gente”. “Eu acho que vai chegar a oito, porque o professor vota com a gente também”, afirma ele.
O professor referenciado é o vereador reeleito Professor Leonardo (PSDB), que conquistou 1.009 votos. Ele, porém, nega veementemente ter feito qualquer acordo com Nivaldo.
“Essa informação não procede, sendo mais uma especulação política gerada pela disputa pela presidência da Câmara”
vereador reeleito Professor Leonardo (PSDB)
“Essa informação não procede, sendo mais uma especulação política gerada pela disputa pela presidência da Câmara”, disse ele ao Notícias Gerais, sem querer comentar mais sobre o áudio que deu origem a esta reportagem.
Em tempo: na legislatura atual, o professor aprovou as contas do prefeito Nivaldo que foram rejeitadas pelo Tribunal de contas.
Medidas cabíveis
Atual presidente da Câmara de São João del-Rei, Igor Sandim (Pode) recebeu a equipe do Notícias Gerais em seu gabinete na Câmara, na manhã do último sábado (5). Durante o encontro, afirmou estar “muito triste em saber que a disputa da presidência da Câmara está sendo associada com outros tipos de barganha”.
O vereador ainda diz que este tipo de prática é inadmissível: “a gente não pode admitir hora nenhuma que vereador misture esse tipo de barganha, comprometendo o dia a dia, o trabalho, a gestão, a transparência da Câmara”.
“a gente não pode admitir hora nenhuma que vereador misture esse tipo de barganha, comprometendo o dia a dia, o trabalho, a gestão, a transparência da Câmara”
– presidente da Câmara de São João del-Rei, Igor Sandim (Pode)
Em relação a conversa entre o prefeito Nivaldo (PSL) e Fabiano Pinto (DEM), Igor se limitou a dizer que havia presenciado “inúmeras“ ocasiões em que o vereador eleito se posicionou contra a compra de apoio político: “ele sempre tem esse posicionamento firme em que ele [afirma que] veio para fazer a diferença, veio comprometido com o povo de São João del-Rei”, pontua.
O presidente da Câmara ainda indica que este tipo de conduta não é frequente na casa: “nas minhas gestões na Câmara, na qual eu participei enquanto presidente, isso não é comum, não”.
Questionado sobre já ter recebido proposta similar do prefeito Nivaldo (PSL), Igor (Pode) responde: “de forma nenhuma, até mesmo porque sou contrário dele. Não sou o candidato que ele queria que fosse assumir a presidência a partir de janeiro agora”.
Sobre as denúncias de compra de apoio político dentro da casa, o presidente da Câmara afirma que precisará “estudar com a parte jurídica” para que medidas sejam tomadas: “a gente tem que olhar as leis e alguma decisão também que a justiça deve se posicionar em relação a esses fatos que vem acontecendo em São João del-Rei”.
* Colaboraram com esta reportagem: Ana Laura Queiroz, Arthur Raposo Gomes,
Caroline Santos Teixeira, Kamila Amaral e Najla Passos
