Início Cultura SINÓGENO REMIXA MÚSICA ELETRÔNICA COM TRADIÇÃO MINEIRA DOS SINOS

SINÓGENO REMIXA MÚSICA ELETRÔNICA COM TRADIÇÃO MINEIRA DOS SINOS

Foto: Morandi Fotocinegrafia

Assessoria de Imprensa

Sinógeno é um ep visual feito a partir de samples da tradição centenária dos sinos falantes de São João del-Rei, reconhecida pelo IPHAN como patrimônio nacional, desde 2009. Lançado dia 15 de março, é a primeira produção a samplear* os ritmos africanos tocados pelos sinos da cidade, ou seja: um fato histórico, que leva a tradição musical iniciada há séculos atrás para um novo lugar, inserindo-a na linguagem da música eletrônica. 

A cidade tem uma tradição sineira que faz parte dos seus 300 anos de história e muitas vezes, os sinos eram tocados por negros escravizados, que tinham uma origem musical muito própria e acabavam colocando um pouco de suas influências nas batidas. Ao ouvir os sinos tocando, é possível perceber semelhanças com ritmos como o maracatu, o baião, etc.

“É preciso lembrar que o negro escravizado não podia entrar na igreja católica naquele período, mesmo sendo sineiro. Hoje a gente descobriu que existe grande influência desses negros na linguagem dos sinos. As tradições são contadas por alguém que, necessariamente, coloca luz em alguns lugares e esconde outros”, afirma Yuri Vieira, autor do artigo “Influência Africana na Linguagem dos Sinos de São João del-Rei”.

Além dos samplers digitais e beats, criados por Rabay, idealizador do projeto, o EP conta com uma espécie de sampler orgânico, que é o instrumento “sineiro”, criado e tocado por Maria Anália, musicista e luthier, que criou a peça a partir da pesquisa sobre os timbres dos sinos de São João e compôs linhas melódicas, inspiradas nos toques originais da tradição.

Com imagens de Thiago Morandi, conhecido pelo seu trabalho de registro da cultura são-joanense, o vídeo aposta em uma edição que usa efeitos e cores para reforçar o conceito de modernizar o passado, profanar o sagrado e manter a cultura viva através da antropofagia. Além disso, predominam tons vermelhos, que talvez sirvam para nos lembrar de aspectos contraditórios dessa história, que alguns gostariam de deixar esquecidos.

“Sempre achei surreal morar em uma cidade onde os enormes sinos metálicos e centenários tocavam ritmos africanos. Mais louco ainda é entender a relação desses sons e tradições com a cidade e seu passado, tão cheio de riquezas e contradições. De tanto sentir essas coisas, acabei criando um projeto e consegui convocar artistas fantásticos que também captaram as entrelinhas dos sinos”, diz Rabay, idealizador do projeto.

Controvérsias

Apesar do resgate histórico que a obra traz, Sinógeno tem dividido opiniões entre entusiastas do projeto e pessoas que o acusam de descaracterizar o patrimônio, tombado pelo IPHAN. Ouvidos mais conservadores, mostram-se contrários à “atualização” da tradição sineira e seu diálogo com a música eletrônica, defendendo a suposta pureza de uma tradição que originalmente nasceu da fusão de diversas influências.

O mesmo aconteceu com o advento do manguebit em Pernambuco, que misturava ritmos regionais com influências estrangeiras. À época, seguidores do movimento Armorial, iniciado por Ariano Suassuna, eram contra a fusão dos ritmos, afirmando que isso era algo negativo para a cultura popular.

O movimento Armorial pensava a criação de uma cultura erudita a partir de elementos regionais nordestinos. Apesar disso, quando Chico Science, um dos principais fundadores do movimento mangue, encontrou-se com Suassuna (que na época era secretário de cultura do Recife), disse para o escritor que se via como um Armorial e que fazia aquilo para valorizar o maracatu rural.

Sinógeno se inspira em Science, quando este diz que modernizar o passado é uma revolução musical. É a ideia da parabólica enfiada na lama, em diálogo com o mundo, porém sem nunca esquecer de suas raízes.

Ficha Técnica

Produção musical, beats e edição de vídeo – Rabay

“Sineiro” (instrumento criado pela artista) e Marimba de Porcelanato – Maria Anália

Imagens – Morandi Fotocinegrafia

Mix & Master – Pacato

Agradecimento aos sineiros Luiz Carvalho de Freitas, João Victor Neves, João Carlos Eduardo, João Victor Cipriano e Luiz Paulo.

1 COMENTÁRIO

  1. É possível haver esta influência africana na tradição sineira de São João del-Rei. A cidade teve sua origem e desenvolvimento com a descoberta do ouro em suas serras e betas. Trabalho este que teve a contribuição do negro escravo. Daí a importância da influência cultural africana não somente demonstrada no toque dos sinos, mas na música, na comida, no modus vivendi em geral de nossa cidade. Parabéns pelo trabalho.

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