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PROFESSOR DE SP MORRE APÓS TOMAR CLOROQUINA E CIENTISTAS ALERTAM PARA RISCOS DO USO

Valdemar Santos tinha 47 anos, era saudável e estava fora do grupo de risco para Covid-19. (Foto: Redes sociais)

Najla Passos
Da Editoria

Um dos fundadores do cursinho popular da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Valdemar Santos tinha 47 anos, era saudável e estava fora do grupo de risco para Covid-19.  Morreu 19 dias após ser diagnosticado com a doença que, na fase mais crítica, foi tratada com anti-inflamatório, antitérmico, antibiótico e cloroquina.

A cloroquina provocou efeitos colaterais e, após uma melhora aparente, ele faleceu no hospital Emílio Ribas, na zona norte de São Paulo, na segunda (6). Sua morte aqueceu o debate sobre o polêmico uso do medicamento para pacientes com Covid-19 no país.

Defendido de forma enfática pelo presidente Jair Bolsonaro em cadeia nacional de rádio e televisão, o uso da cloroquina (ou hidrocloriquina) ainda não possui eficácia comprovada no tratamento de pacientes com Covid-19.

Há vários estudos sérios em andamento na Europa, nos Estados Unidos e no Brasil que apontam resultados promissores e outros que demonstram ineficácia. A comunidade científica afirma que só o tempo poderá indicar se o uso é ou não recomendado.

Ainda assim, na última terça (7), o ministro da Saúde, Henrique Mandetta, que andava sendo ameaçado de perder o cargo por descordar do presidente, liberou a administração da cloroquina para todos os pacientes com Covid-19, desde que o médico que prescrevê-la assuma os riscos. Até então, o uso era restrito aos pacientes em estado grave.

Posições internacionais

Nesta sexta (10), hospitais de Estocolmo e Gutemburgo, as duas maiores cidades da Suécia, suspenderam o uso de cloroquina em pacientes com Covid-19, depois de verificarem efeitos colaterais graves, como arritmia, parada cardíaca e perda da visão periférica.

“Tomamos a decisão de interromper o uso da cloroquina diante de uma série de casos suspeitos de efeitos colaterais severos, sobre os quais tivemos notícia tanto aqui na Suécia como através de colegas de hospitais em outros países”, disse o médico sueco Magnus Gisslén, professor da Universidade de Gotemburgo e chefe do Departamento de Doenças Infecciosas do Hospital Universitário Sahlgrenska, o maior da Suécia e um dos maiores da Europa, em entrevista a Rádio France Internacional (RFI).

O médico destacou que o medicamento pode fazer mais mal do que bem aos pacientes. “Não se pode descartar que o medicamento possa inclusive piorar o quadro clínico do paciente”, observa o médico sueco.

“Não se pode descartar que o medicamento possa inclusive piorar o quadro clínico do paciente”,

Magnus Gisslén, médico e professor sueco

Antes disso, na França, o Hospital de Nice suspendeu os testes com o medicamento após uma paciente sofrer complicações cardíacas em decorrência do uso. A Agência Nacional de Saúde francesa investiga três mortes de pessoas que se automedicaram com hidrocloroquina e tiveram complicações posteriores.

O ministro da Saúde da França, Olivier Véran, declarou na terça (7) que os dados repassados por hospitais do país que estão administrando a cloroquina e a hidroxicloroquina não revelam resultados significativos, em termos estatísticos.

Em editorial publicado na quinta (8), o British Medical Journal, do Reino Unido, uma das publicações científicas da área médica mais respeitadas do mundo, afirmou que o uso da cloroquina e seus derivados no tratamento de pacientes com Covid-19 é prematuro e potencialmente prejudicial, devido aos efeitos colaterais amplamente conhecidos pela comunidade médica.

Pesquisas brasileiras

Resultados preliminares do estudo feito pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e pela Fundação Medicina Tropical com a cloroquina, divulgados na terça (7), respaldam a posição do ministro francês ao revelar que a taxa de mortes de pacientes com Covid-19 que receberam o medicamento é semelhante à dos que não o tomaram.

Os testes também mostraram que a dose maior de cloroquina administrada inicialmente nos pacientes provocou reações indesejadas, como arritmia e outras complicações. Eles receberão agora apenas a dose mais baixa prevista. A pesquisa, que ainda está em curso, prevê que 44 pacientes sejam testados. Isso fará com que as conclusões só sejam assertivas dentro de dois ou três meses.

a taxa de mortes de pacientes com Covid-19 que receberam o medicamento é semelhante à dos que não o tomaram.

A informação consta em estudo preliminar da Fiocruz e Fundação Medicina Tropical

Universidade em ação

Em nota divulgada na sexta (9), a Universidade de Campinas (Unicamp) disse que “corrobora as recomendações dos órgãos sanitários e da comunidade médico-científica mundial de que não há, até o momento, evidência científica suficiente baseada em ensaios clínicos com humanos sobre a eficácia desses medicamentos para o tratamento da doença causada pelo novo coronavírus”.

A universidade afirma ainda que as manifestações de apoio ao uso da HCQ para COVID-19 se baseiam em evidências frágeis, não apoiadas por investigações sólidas que devem ser fundamentadas em ensaios clínicos controlados. “A universidade, como centro do conhecimento, deve sempre recomendar indicações e propostas que valorizem a razão científica em lugar de soluções intuitivas e crenças, que apesar de geralmente bem intencionadas podem estar eventualmente equivocadas”, diz o documento.

“não há, até o momento, evidência científica suficiente baseada em ensaios clínicos com humanos sobre a eficácia desses medicamentos para o tratamento da doença causada pelo novo coronavírus”

Nota da Unicamp

* Com informações da RFI, BBC Brasil, Unicamp e Fiocruz.

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