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ARTIGO: MINISTÉRIO DA ASTROLOGIA MANTÉM DATA DO ENEM E ESTUDANTES VIVEM INFERNO ASTRAL

Ministro Abraham Weintraub, habemus Enem (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Por Douglas Caputo *

“Buemba! Buemba!”, diria o símio da Folha. A Terra é plana e o mundo dá voltas. Mas nenhum astrólogo do MEC previu que um vírus apocalíptico poderia dizimar as massas. Macacos me mordam! Como podem esses olavistas não terem profetizado o cataclismo em suas bolas de cristal?

Mãe Diná, que Deus a tenha, essa sim era porreta. Enxergou uma aura escura nos Mamonas Assassinas e, záz, os roqueiros foram parar num saco crá-crá em acidente aéreo que completou 24 anos no último dia 2 de março. Quem sabe não criam uma Secretaria de Psicografia no MEC e contratam Mãe Diná para dar uma forcinha?

É que a coisa lá tá feia. Oráculo de Carvalho não se manifesta faz um tempão. Por sua vez, o Inep, que organiza o Enem, anda saliente. O Instituto tomou de assalto estudantes e professores ao publicar edital do Exame terça passada (31). Que Jesus da goiabeira interceda pelos alunos.    

Isso porque o Inep manteve as datas dos testes, mesmo com as escolas de todos os estados paradas por causa do Coronavírus. Para estudantes que vão fazer o Enem digital, a prova será dias 11 e 18 de outubro, já a versão impressa tem aplicação dias 1º e 8 de novembro. Quem pensou que estava de férias, é bom tirar as barbas de molho.

Sente a bunda na cadeira e vá estudar, mesmo porque os calendários letivos, com o avanço da pandemia, vão bagunçar o coreto de toda a comunidade escolar brasileira. Ainda mais com Medida Provisória (MP) editada pelo governo quarta passada (1º).

A MP, assinada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e pelo Ministro da Educação, Abraham Weintraub, dispensa a obrigatoriedade legal de 200 dias letivos a serem cumpridos pelas redes públicas e privadas de ensino básico.  Ponto para o governo.

Mas, no noves fora, os cálculos MEC não gabaritam. Conforme a MP, as escolas podem considerar, no Ensino Médio, até 800 horas de atividades não presenciais para fechar o ano letivo. Cenário ideal, mas, digamos, paranormal. Nem mesmo com o a Lua em Áries, seja lá o que isso significa, as instituições públicas de ensino conseguiram atingir essa carga horária.

Educação no fundo do poço. “Óbvio” (Imagem/Reprodução da internet)

“Óbvio”

O panorama da crise sanitária só confirma o fundo do poço da Educação brasileira. “Óbvio!”. Sem aparato tecnológico, sem investimentos em formação continuada de professores e com uma matriz teórica exagerada, as escolas vão depender de muita energia positiva dos astros para os que alunos cumpram 800 horas não presenciais e deem conta das volumosas matérias do Enem.

Falo por experiência própria. Com quase duas décadas no jornalismo multimeio, tive que fazer malabarismo para continuar com minha salinha de redação para o Enem, agora virtual.

Meus alunos, alguns isolados na zona rural e desconectados, também viraram acrobatas para não perderem as aulas. Procuraram locais mais alto para pegar sinal de telefonia móvel, uma tristeza.  Quase tivemos que pedir emprestada a tal da goiabeira.

A proposição de 800 horas não presencias entra em aspecto tenso com a manutenção da data do Enem. Como chegar aos alunos se pesquisa do IBGE aponta que cerca de 31% da população brasileira não tinha acesso à Internet no final de 2017.

A maioria, 78%, navegava por redes móveis. Ora, com planos de dados limitados e caros, estudantes não conseguiriam se manter presentes em atividades on-lines, caso essa fosse uma alternativa, mas não o é, meu caro Raimundo.

Sem rima e solução para o vasto mundo do Corona, a população mais pobre do país, como sempre, vai pagar o pato – ou o vírus. Na melhor das hipóteses, as aulas só retornariam depois de maio, conforme o Consed, órgão que representa os secretários estaduais de Educação.

Tempo muito curto para preparar os alunos, principalmente os terceiranistas, para o Exame. Prova disso é que o Supremo Tribunal Federal (STF) já tem recebido pedidos para que o Exame seja adiado. No entanto, um desses pedidos já foi negado pelo ministro Luiz Fux, na sexta (3).

No entendimento do magistrado, o adiamento não pode ser feito por Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental, ou seja, uma medida para combater o desrespeito aos conteúdos mais importantes da Constituição. Para Fux, há meios eficazes para a resolução da controvérsia, como o mandado de segurança. 

Será que realmente estamos todos no mesmo barco? Para os criacionistas e astrólogos do MEC, não. A ideia é paradoxal, já que era de se esperar uma Arca que abrigasse todos, mas o que se tem é um círculo do zodíaco, com cada signo isolado em seu inferno astral. Pois é candidato do Enem, que ótimas energias rejam sua jornada até as provas.    

*É jornalista, mestre em Letras e professor do curso de redação SOU1000.

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