Najla Passos
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O mais belo espaço para retiro espiritual da região, o Seminário Borda do Campo, localizado na zona rural do município de Antônio Carlos, continua fechado para o público em decorrência da pandemia de Covid-19. Mas com o trabalho incessante da sua administração, se mantém como inabalável reduto de paz nestes tempos de tantos desafios.
A imensa edificação em estilo alemão, localizado a 1.040 metros de altitude, em meio à Serra da Mantiqueira, permanece impecável, embelezando o antigo Caminho Novo da Estrada Real, a estradinha histórica de terra batida que, no século 19, encurtou a distância do local até a corte, no Rio de Janeiro, de três para um mês.
Fazenda Borda do Campo
Antônio Carlos ainda era um pedacinho de Barbacena, conhecido como Sítio, quando, em 1926, a Congregação do Verbo Divino inaugurou ali o seminário do Instituto Missionário São Miguel, que funcionou até 1984.
Mais conhecido como Seminário da Borda do Campo, encontra-se em área contínua a da fazenda que leva o mesmo nome e que, por razões diversas, marcou presença na história do país.
A Fazenda Borda do Campo foi estabelecida em 1698 pelos bandeirantes Garcia Rodrigues Paes e Domingos Rodrigues da Silva Leme que precisavam fixar residência na região mais próxima ao ouro das Minas. E acabou por se tornar o núcleo do que mais tarde viria a ser o município de Barbacena e, posteriormente, o de Antônio Carlos.
Perfeitamente conservada, a fazenda mantém a capelinha erguida para Nossa Senhora da Piedade em estilo típico das construções bandeirantes. E também sua casa grande e sua Senzala, já do século 18, que recebeu convidados ilustres como D. Pedro II, que ficou hospedado ali para comemorar o “Dia do Fico”.
Antes disso, a propriedade pertenceu a Joao Aires Gomes, um dos mais ricos dos inconfidentes que, por conta da participação na conspiração contra a Coroa Portuguesa, foi deportado para a Moçambique, onde morreu esquecido. Pela Borda do Campo, circularam vários dos inconfidentes, como Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes.
Seminário Borda do Campo
Erguido séculos depois do conturbado processo histórico da Inconfidência Mineira, o Seminário Borda do Campo formou gerações de religiosos. Mais tarde, quando foi desativado, a edificação foi transformada no espaço que, até antes da chegada da pandemia da Covid-19, recebia grupos para retiro, seminário, lazer e encontro com Deus.
“Não estamos funcionando porque ainda não é seguro. Recebemos um público formado por muitos idosos, então ainda não é recomendável. Nosso bispo não autorizou nem mesmo o retorno de celebrações, como as missas. Só liberou os sacramentos”, esclarece o simpático padre Mariano Piwowar, um polonês com olhar tão calmo quanto o lugar que administra.
O complexo possui 57 quartos, com capacidade para até duas pessoas em cada um. Além a bela igreja, possui refeitório, salas de reunião e uma ampla área externa com quadras, piscina de água natural, trilhas na mata, grutas e até um velho cemitério, cercado por representações da Via Sacra, onde estão enterrados religiosos da região.
“Enquanto estamos fechados para o público, aproveitamos para fazer alguns reparos, garantir a manutenção”, acrescenta o padre. Um trabalho que, por sinal, vem sendo muito bem conduzido: o complexo está belíssimo, em cada detalhe. Ainda mais quieto e silencioso do que de costume, o lugar encanta por exalar algo que falta em tempos de tanta discórdia e polarização: a paz!
