Início Gerais Cotidiano ISOLAMENTO SOCIAL AGRAVA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA, DIZ NOVA DELEGADA DE SJDR

ISOLAMENTO SOCIAL AGRAVA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA, DIZ NOVA DELEGADA DE SJDR

Ariadya Tavares tem 33 anos e a natural de Barbacena. Foto: Arquivo pessoal

Wanderson Nascimento
Notícias Gerais

A Delegacia de Atendimento Especializado à Mulher (DEAM) de São João del-Rei está sob o comando da delegada Ariadya Tavares, que assumiu o posto recentemente. Ela tem 33 anos de idade, é natural de Barbacena, formada em Direito desde 2010, tendo atuado como advogada nas áreas cível e criminal.

Em entrevista ao Notícias Gerais, ela falou sobre sua carreira, sobre a violência contra a mulher e sobre as expectativas para esta nova jornada em sua carreira.

Atuação profissional

Após atuar como advogada e ter ocupado o cargo de procuradora municipal por cinco anos, Ariadya foi aprovada, em 2019, no concurso para delegada de Polícia do Estado de Minas Gerais e começou sua atuação em abril de 2020. Desde então trabalhou em duas delegacias de polícia na região sul do Estado, nas cidades de Monte Santo de Minas e Arceburgo.

“Nesses locais atuei com todos os tipos de crime: crimes contra a saúde publica, crimes contra o patrimônio, crimes contra a dignidade sexual, fraudes, crimes contra a vida etc, além de também trabalhar delitos relacionados à violência doméstica”, explica.

Esta é a primeira vez que ela está atuando como titular de Delegacia Especializada de Atendimento às Mulheres, mas já tem certa experiência no assunto. “Como já atuava com crimes de violência doméstica nas comarcas anteriores, já sabia da minha preferência por este tipo de atuação”, acrescenta.

Ela acredita que a atuação como delegada de mulheres vai muito além da investigação e conclusão de um inquérito. “É necessária sensibilidade com a causa, um perfil específico para atendimento das vítimas e de seus familiares, além da ciência do quanto é importante a existência de leis e procedimento específicos”, destaca, afirmando que o trabalho da DEAM também tem uma atuação em rede com outros órgãos e instituições públicas e privadas, pois a resolução dos problemas relacionados à violência vai muito além da área criminal.

“Sempre tive muito interesse por causas sociais e acredito que a delegacia enquadra bem nesse perfil”, afirma.

Cenário atual

Ano passado, ao contrário do cenário registrado no Brasil de forma geral, de acordo com dados do 9º Batalhão de Polícia Militar de Barbacena, houve uma redução de cerca de 30% nas denúncias de casos de violência doméstica na região desde o início da pandemia, se comparado com dados do mesmo período de 2019.

Ariadya explica que os dados não representam uma queda da violência contra a mulher, mas apenas uma subnotificação. “Na realidade, na maior parte do país, houve uma queda no registro de lesões corporais em âmbito doméstico, mas houve um aumento do feminicídio (homicídio praticado contra mulheres por razões da condição de sexo feminino)”.

De acordo com a delegada, isso indica que as agressões contra mulheres aumentaram, mas apenas os registros diminuíram. “A explicação, portanto, é que o isolamento social imposto por conta da pandemia fez com que mulheres convivam com seus agressores por um período de tempo ainda mais longo e encontrem mais barreiras para denunciar esse tipo de violência”, explica.

Segundo ela, encontrando-se mais em casa e com menos convívio com terceiras pessoas (amigos, colegas de trabalho e outros familiares), a vítima teve menos oportunidades de pedir ajuda.

Ariadya declara que as expectativas para 2021 não são nada boas. “São bem próximas do ano de 2020, visto que a a pandemia ainda não foi controlada na maior parte do país, e grande parte das mulheres ainda se encontram isoladas em seus lares”, pontua.

Importância das denúncias

A delegada destaca que é importante que as mulheres não esperem chegar às vias de fato para efetuarem a denúncia. “O ideal é que a mulher procure a ajuda da polícia, seja a Polícia Civil ou a Polícia Militar, no primeiro sinal de abuso, como xingamentos, perseguição ou ameaças. A tendência dos relacionamentos abusivos é que a violência seja cada vez mais grave, e é necessário que a mulher solicite ajuda o quanto antes”, aconselha.

Ela pontua que a vítima pode solicitar medida protetiva a qualquer momento, não sendo necessário que ela espera chegar até o momento de sofrer uma agressão física.

“Importante pontuar que toda lesão e também as mortes de mulheres iniciaram-se com xingamento e ameaças. E todas as mulheres devem ter conhecimento disso”.

Padrão dos agressores

A delegada explica que há certo padrão dos agressores contra mulheres. Geralmente são homens extremamente controladores, ciumentos e rudes. “A violência doméstica que geralmente ocorre dentro das relações de afeto (namorados, companheiros e casados) começa com humilhações, xingamentos, inferiorizaçãoe ameaças, até chegar nas agressões físicas e até mesmo a morte da mulher”, ressalta.

Ela destaca que existe também o que é chamado de “Ciclo da Violência Doméstica”. Esse termo foi criado por uma psicóloga norte-americana, que identificou que as agressões cometidas em um contexto conjugal ocorrem dentro de um ciclo que é constantemente repetido.

Ariadya explica que esse ciclo é composto por três fases: a 1ª, chamada de “Aumento da Tensão”, é o primeiro momento em que o agressor mostra-se tenso e irritado. “Ele xinga, humilha e ameaça a mulher, além de provocar depreciação e inferiorização”.

Já na 2ª fase, chamada de “Atos de Violência”, o agressor concretiza as ameaças e de fato pratica violência contra a mulher, principalmente a violência física. E na 3ª fase, chamada “Lua de Mel ou Apaziguamento”, o homem se mostra arrependido, pede perdão emostra-se carinhoso.

“Geralmente, a mulher acredita nessa mudança e permanece na relação. Tempos depois, o ciclo se repete. Por isso, a importância de se quebrar o ciclo da violência”, destaca.

Obstáculos às denúncias

Ariadya explica que existem os mais diversos fatores que inibem as mulheres de denunciarem seus agressores. Existe a dependência psicológica, a dependência financeira, a existência de filhos menores envolvidos. “A mulher muitas vezes também tem vergonha de contar a seus amigos e familiares sobre os episódios de violência que vem sofrendo”.

A delegada pontua que ambém são motivos a submissão, o medo de ficarem sozinhas, a falta de apoio de familiares e amigos, o medo de que as agressões piorem, a falta de informação em relação às medidas e instituições que a mulher tem a sua disposição.

“Por fim, também é muito comum a falta de percepção da mulher de que ela está em um relacionamento abusivo e a esperança de que seu parceiro mude de comportamento”, afirma.

A lei Maria da Penha traz um rol dos tipos de violência praticadas contra a mulher, quais sejam, a violência física, moral, psicológica, sexual e patrimonial.

Medidas contra o agressor

Ariadya explica o que acontece quanto a polícia e a justiça interferem nos casos de violência contra a mulher. Caso a vítima solicite a concessão de medida protetiva, o agressor será submetido a algumas restrições, como afastamento do lar; proibição de se aproximar da ofendida ou de seus familiares; proibição de manter contato com a ofendida e de frequentar determinados lugares; prestação de alimentos; restriçao ou suspensão de visitas aos dependentes menores; comparecimento do agressor a programas de reeducação e recuperação; acompanhamento psicossocial etc.

Em relação a condenação, o agressor poderá cumprir pena de prisão.

Formas de combater a violência

A delegada afirma que a principal forma de combate à violência doméstica é a divulgação dos direitos e das medidas que se encontram à disposição das vítimas e o fortalecimento das instituições.

“É importante que os órgãos que constituem a justiça criminal, bem como demais órgãos que integram a rede de atendimento às mulheres estejam bem equipados, com equipes treinadas e com estruturas física e humana compatíveis com a demanda do município”, explica.

Como denunciar

Canais de atendimento:

  • Disque 100;
  • Ligue 180;
  • 190 – Polícia Militar;
  • Delegacia virtual (é possível o registro da ocorrência pela internet);
  • Aplicativo “App Mulher” (aplicativo disponível gratuitamente para sistema android e IOS);
  • Delegacia especializada de Atendimento à Mulheres – situada na Rua Fiscal Januário Ramos, 123, Vila João Lombardi. Telefone: 3371-2099.

A delegada finaliza, agradecendo a oportunidade e o espaço concedido para divulgação da Lei Maria da Penha e dos trabalhos realizados pela Polícia Civil, por meio da Delegacia Especializada de Atendimento às Mulheres e reitera sobre a importância em denunciar. “A Polícia encontra-se a disposição para o atendimento de todas essas mulheres”, conclui.

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