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EM ANIMAÇÃO, PROJETO DA UFSJ MOSTRA IMPACTOS FÍSICOS E MENTAIS DO HOME OFFICE

Kamila Amaral
Notícias Gerais

O “Cada um em seu quadrado (cubo): repensando os espaços da habitação, do trabalho e da cultura em tempos de pandemia” é um projeto de extensão desenvolvido no curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) que apresenta, por meio de animação, o impacto do home office para os trabalhadores.

Iniciada em fevereiro de 2021, essa iniciativa faz parte dos projetos amparados pelo Programa Institucional de Auxílio ao Enfrentamento à Pandemia Covid-19, seus Impactos e Efeitos” (PIE-Covid-19) da UFSJ.

Com base nas pesquisas realizadas na primeira parte do projeto, a bolsista Gabrielle Heloísa Fernandes, desenvolveu uma animação, com objetivo de mostrar aos trabalhadores, de forma simplificada, algumas maneiras de ajustar o local de trabalho dentro de casa a fim de diminuir os impactos causados por essa nova realidade.

A ideia para o “Cada um no seu quadrado” surgiu de um projeto anterior, realizado no final do ano passado, que consistia em um tipo de teatro itinerante: era, basicamente, um caminhão com contêiner onde os artistas viviam e se apresentavam pelas ruas de São João del-Rei, como forma de levar iniciativas culturais para as pessoas durante a pandemia sem que elas precisassem sair de casa. 

“Como a gente propôs um trabalho em que a habitação ocorreria no mesmo local, a gente ficou pensando também na pandemia e como isso acontece com o home office”, conta a bolsista e estudante do 7º período do curso de Arquitetura e Urbanismo UFSJ, Gabrielle Heloísa Fernandes, à reportagem do Notícias Gerais.

Outros dois pontos levantados por diferentes partes do projeto são a interiorização da cultura em sociedade e discussão sobre a parte da população que não se encaixa na discussão sobre o home office, já que não tem acesso a moradia digna, a um trabalho formalizado,  e estão à mercê dessa vulnerabilidade social. 

Os mais afetados

Por se tratar de um projeto de extensão, a pesquisa focou na população de São João del-Rei, principalmente, nos trabalhadores. No entanto, os estudantes do ensino superior também foram considerados.

Segundo Fernandes, estima-se que cerca de 9 mil trabalhadores de São João del-Rei, além dos estudantes das três instituições de ensino superior presentes na cidade, podem ter passado a trabalhar de casa por causa do avanço do novo coronavírus.

A pesquisa também levantou o perfil socioeconômico dessa população e constatou que 76% dos trabalhadores que foram transferidos para o home office possuem ensino superior, a maioria são pessoas brancas e mais de 50% pertencem às classes A e B.

“A gente entende que essas pessoas, não que ‘não tenham impacto’ mas, poderiam passar por essas mudanças de um modo mais tranquilo”, destaca a bolsista do projeto. 

Outro ponto importante da pesquisa mostra que as mulheres foram as mais atingidas, por vários motivos, pelo home office – tanto pela dupla jornada quanto por serem a maioria da força de trabalho nos setores essenciais e desenvolvem a maior parte dos cargos de cuidado, como enfermagem e outros, por exemplo. 

“Uma coisa que a gente viu nessa questão de adaptação é que, por exemplo, no home office era uma classe mais alta que foi atingida, mas no âmbito da universidade, os mais atingidos foram a classe C, quando você avista, principalmente, os estudantes da UFSJ”, ressalta Fernandes. 

Impactos na saúde

Apesar da possibilidade de realizar o trabalho de forma remota durante a pandemia ser um privilégio incontestável, esse home office forçado, e que não foi bem planejado, tem gerado impactos negativos na saúde física e mental dos trabalhadores.

“As pessoas estão mais cansadas, elas não estão conseguindo impor limites. Ou elas trabalham demais ou elas não conseguem trabalhar por distrações dentro de casa”, diz Fernandes.

Os desgastes físicos também estão presentes e se manifestam de diversas maneiras, sendo as mais comuns: dores nas costas, fadiga e dor lombar.

“Isso (ocorre), principalmente, pelo mobiliário inadequado, uma cadeira que é inadequada, com uma altura inadequada, ou até mesmo o fato da pessoa trabalhar no sofá, na cama”, relata a estudante. 

Segundo ela, pequenas mudanças podem ajudar a minimizar esses impactos negativos e a Arquitetura pode contribuir auxiliando na modificação do espaço que está sendo utilizado para o trabalho, a fim de suprir as demandas do trabalhador. 

A principal recomendação é que, quem tem condições, deve utilizar um espaço na casa somente para o trabalho, sem dividi-lo com o espaço de descanso. No entanto, algumas pequenas alterações, como possuir um espaço – mesa e cadeira – confortável, computador na altura dos olhos – não muito próximo nem muito distante – e um espaço ao lado para manuseio de documentos, sem que haja a necessidade da realização de muitos movimentos repetitivos, já ajudam a minimizar os incômodos. 

Responsabilidades do empregador

Devido ao fato de ter sido imposto, principalmente, pela pandemia da Covid-19 e a necessidade de distanciamento social, o home office vivido por grande parte dos brasileiros foi instituído meio às pressas e, por isso, apresenta diversos problemas. Um dos fatos citados pela bolsista do “Cada um no seu quadrado” é o fato da legislação ainda não abranger, de forma efetiva, a regulamentação do teletrabalho. 

“A empresa precisa adequar os espaços que estão sendo utilizados para o trabalho, ela precisa dar uma cadeira confortável, ela precisa que a pessoa que está trabalhando em casa tenha uma mesa correta, mas isso não está amparado em nenhuma lei”, defende a estudante.

Segundo ela, como muitas empresas devem seguir com a modalidade home office mesmo depois da pandemia, essas questões precisam ser pensadas e melhor elaboradas. 

Projeto

A primeira parte dos trabalhos do projeto se encerrou em junho. “Com base nas informações coletadas durante a pesquisa, a gente fez esse vídeo mais voltado para a população em geral mesmo, para ver quais são os impactos, se elas também estão sentindo isso e mostrar o que elas podem fazer em casa com pequenos ajustes”, explica Fernandes.

Coordenado pela professora Luciana Massami Inoue, o projeto “Cada um em seu quadrado (cubo): repensando os espaços da habitação, do trabalho e da cultura em tempos de pandemia” foi renovado até dezembro de 2021.

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