Início Opinião Crônica CRÔNICA: UM DIA DE CADA VEZ, UMA RECEITA POR VEZ

CRÔNICA: UM DIA DE CADA VEZ, UMA RECEITA POR VEZ

Maura de Nazareth *

Cozinhar foi uma das boas coisas que me aconteceram nessa quarentena.

Digo quarentena e não pandemia, porque na pandemia nada de bom ainda se pode experimentar. Estar de quarentena é uma coisa, estar nas ruas em meio a pandemia é outra bem diferente. Pode ser maçante, difícil e, às vezes, insuportável não poder ir e vir livremente, mas certamente é a posição mais cômoda nessa guerra da era altermoderna, que é a pandemia do coronavírus, a Covid-19.

Mas cozinhar tem sido uma experiência muito gratificante. Cheguei à conclusão que não tem mistério se há uma boa receita a seguir. O que empata um bom prato é tão somente a falta de confiança e o medo de não dar certo. Isso impede o bom resultado. Aliás, o medo sempre empata as coisas quando excessivo. Um pouquinho dele é salutar, até mesmo para aquele prato sair bem igual a foto ou ao vídeo que acompanha a receita a ser feita.  Ele te impulsiona a acertar.

O agir diante do medo se chama coragem.

Assim, somando a necessidade e a presença do medinho salutar de errar, pois nesse caso, como moro sozinha, somente eu saberia, ficaria com fome ou comeria besteira, foi a minha receita do sucesso que tenho experimentado na cozinha.

Pedir comida todos os dias em casa estava fora de questão. Não era saudável para o corpo, muito menos para o bolso. Assim motivada fui me reinventando  a cada dia, a cada receita; aquelas do caderninho da mãe, as já mais que testadas por minhas irmãs e as aventuras retiradas da internet.

O resultado tenho experimentado todos os dias, saboreando um bom prato feito por mim. Quem diria! Nunca tive tempo pra isso. Agora tenho, ou melhor, tenho de ter. Já estou na fase do pão caseiro, sem conservantes e quentinho.  Deus, como isso é bom!

A sensação de autossuficiência é um estímulo a mais para suportar essa espera interminável. Uma das coisas que nos ajuda a ainda ficar de pé mesmo diante de tanta tristeza que anda por aí a fora. Tanta gente precisando de tanto… Sensação de que por mais que ajudemos, ainda não é suficiente… Sensação de não saber o que será de nós até que chegue a tão esperada vacina… Única que pode nos salvar.

Bom, como já disse há quase três meses, vivendo um dia de cada vez, uma receita por vez, vamos vencendo esses medos e nos fortificando para que possamos também fortificar aqueles que precisam de nós.

É isso. Nossa parte. Nossa contribuição para o mudo é feita a partir de onde estamos e a nossa obrigação é fazer desse lugar o melhor possível e nos reinventar sempre, para que possamos estar bem e assim ajudar o outro a também estar.

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