Início Cultura CRÍTICA: SERGIO (2020) ACERTA NO ELENCO MULTICULTURAL, MAS PECA NO ROTEIRO

CRÍTICA: SERGIO (2020) ACERTA NO ELENCO MULTICULTURAL, MAS PECA NO ROTEIRO

Sergio (Barker, 2020)

Lucas Maranhão *

Os filmes biográficos sempre foram um imenso sucesso, desde o princípio da arte no século XX. Os atores e atrizes, em especial, amam o gênero – talvez, o que mais dependa de suas performances. O que seria da carreira de Eddie Redmayne sem A Teoria de Tudo (2014)? E Jamie Foxx seria ainda um ator limitado à comédia se Ray (2004) nunca tivesse acontecido. Porém, é muito comum vermos cinebiografias que, apesar de apresentarem uma excelente atuação, são esquecidas, já que os outros elementos do filme não acompanham a mesma qualidade. A Dama de Ferro (2011), em que Meryl Streep interpreta Margaret Thatcher é um exemplo. Por outro lado, filmes como Ed Wood (1994) e O Mundo de Andy (1999) representam trabalhos em que a direção e o roteiro mergulham junto do ator na mente do biografado – o resultado é admirável.

Infelizmente, Sergio (2020), dirigido por Greg Barker para a Netflix, se enquadra no primeiro exemplo. Acompanhando a vida e carreira do diplomata brasileiro da ONU Sergio Vieira de Mello (Wagner Moura), assassinado em 2003 pela Al Qaeda, a produção americana até acerta em apresentar um elenco multicultural (algo raro em Hollywood), mas é prejudicado por um roteiro pouco inspirado. A estrutura entrelaça diversas narrativas, sendo as principais aquelas que acompanham os trabalhos de Sergio no Timor Leste e no Iraque. São também esses momentos que trazem a personagem Carolina Larriera (Ana de Armas) para o centro do filme, como o grande amor do protagonista.

A dupla Wagner Moura e Ana de Armas certamente é o destaque da produção – o brasileiro já sendo um experiente e renomado ator que começa a expandir suas habilidades para outras áreas. Tendo dirigido Marighella (ainda não lançado), Wagner Moura aqui é também produtor do filme. Como protagonista consegue superar as expectativas até daqueles que já conhecem seu talento, fugindo de suas personas que já conhecemos e empregando autenticidade ao personagem. Já a cubana Ana de Armas ainda está no começo de sua ascensão como atriz, mas vem mostrando seu potencial a cada filme, como em Blade Runner 2049 (2017), e principalmente em Entre Facas e Segredos (2019).

O que faz de Sergio um filme esquecível é justamente o roteiro. Falha primeiramente por não conseguir transformar uma história tão rica e fascinante como a de Sergio Vieira de Mello em uma narrativa interessante. Não consegue balancear bem o romance entre os protagonistas com a história principal (os feitos de Sergio como diplomata até sua morte), o que leva à segunda falha do roteiro: é recheado de clichês baratos. Passa pela promessa não cumprida, o pai ausente, o herói interrompido por uma tragédia e até mesmo o beijo na chuva. No final o filme acaba deixando a sensação de “eu já vi isso tantas e tantas vezes”. 

A direção de Greg Baker não é efetiva em superar esse roteiro, mesmo com todo conhecimento que tem sobre a vida do biografado (ele também dirigiu um documentário sobre Sérgio de Mello para a HBO). Se tiramos algo positivo do filme, é a força cada vez maior de Wagner Moura não só como ator, mas como realizador. No Brasil ou no estrangeiro, ele tem potencial para se tornar o grande nome brasileiro no cinema mundial. Vida longa ao artista em momento de tanta descrença ao cinema nacional.

Nota:

* É jornalista, designer e apaixonado por cinema.

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