Início Opinião Coluna CONHEÇA OS (POUCOS) CANDIDATOS COMPROMETIDOS COM O PATRIMÔNIO FERROVIÁRIO

CONHEÇA OS (POUCOS) CANDIDATOS COMPROMETIDOS COM O PATRIMÔNIO FERROVIÁRIO

É inegável que trens e ferrovias fazem parte da construção da identidade mineira. São também uma das pontas de lança para o turismo que atrai divisas e gera empregos na região. Mas nestas Eleições 2020, são raros os políticos que apresentam propostas para o resgate e preservação da memória ferroviária local.

Dos 795 candidatos às Câmaras Municipais de Barbacena, Barroso, Prados, São João del-Rei e Tiradentes – os municípios encravados na trilha da antiga Estrada de Ferro Oeste de Minas (EFOM), apenas dois apresentam propostas concretas para o patrimônio físico e imaterial legado pela ferrovia de menor distância entre os trilhos do mundo.

A Locomotiva 20

A Locomotiva 20 no pátio da Estação Ferroviária de São João del-Rei, em 1941. Autor desconhecido.

O mais afinado com a luta pelo resgate e preservação do patrimônio turístico da região disputa uma vaga na Câmara de Vereadores de Tiradentes, município que atrai milhares de turistas, todos os anos, para curtir o passeio na Maria Fumaça, a ferrovia de menor distância entre os trilhos em que há circulação de um trem turístico .

Aos 27 anos, o advogado João Marcos Guimarães Silva (PSB), 27 anos, foi vereador no município de 2013 a 2016 e secretário de Assistência Social de 2017 a 2020. Aficionado por trens, é reconhecido pelos membros dos clubes ferroviários da região como aquele que os representa.

Após ter tido papel imprescindível na restauração da Estação Ferroviária César de Pina, ainda em andamento, ele agora propõe pelo menos três novas ações voltadas ao setor, caso seja eleito. A primeira é a recuperação da Locomotiva número 20, que circulava na EFOM e hoje encontra-se exposta na capital, Belo Horizonte, desde a década de 1980.

Ele também se compromete a incentivar a cessão de espaço para a Associação Brasileira e Proteção Ferroviária (ABPF) nas estações ferroviárias de Tiradentes e César de Pina e, ainda, propor a reconstrução da Parada da Caixa D’Água da Esperança, outro reduto dos tempos da EFOM, e transformá-la em um polo turísticos de produtos caipiras locais.

Estação de Barroso

Em Barroso, é servidora pública Vera Rodrigues Pereira (PT) quem mais tem trabalhado pelo patrimônio ferroviário local. Primeira mulher presidente da Câmara Municipal de Barroso em 2011, vereadora por dois mandatos, ela tem atuado na luta pela recuperação de vários bens patrimoniais do município, atuando junto ao Iphan e ao governo do Estado.

Entre eles, a histórica Estação Ferroviária de Barroso, que configura o bem patrimonial mais antigo da cidade. Segundo a professora, a estação foi inaugurada em 30 de setembro de 1880. Contudo só foi adquirida pela municipalidade no ano de 2006. “Na época, já tramitava proposta de tombamento do imóvel, no entanto só foi homologado recentemente por meio do decreto municipal nº 3.975/2019”, conta ela.

A luta agora é para que a estação seja transformada em um centro cultural de resgate da memória de Barroso, já que, atualmente, possui uma destinação bem atípica: serve de moradia para famílias sem-teto que, inclusive, já fizeram alterações no seu projeto arquitetônico. “Acredito que este será mais um desafio para o próximo gestor”, prevê ela.

Para Verinha, sendo o único imóvel histórico ainda intacto na cidade, a estação tem enorme relevância como acervo patrimonial da memória regional. “Nossos gestores precisam tomar as devidas providências para a restauração e criação de um museu municipal, sendo que até hoje não conseguimos instalar um”, acrescenta.

Com a palavra, os prefeitos!

Estação Ferroviária de Barbacena. foto: Najla Passos

No total, 24 chapas concorrem às prefeituras de Barbacena, Barroso, Prados, Tiradentes e São João del-Rei. Mas a preservação da memória ferroviária local só aparece nos programas de duas delas. E em uma, de uma forma tão equivocada que chega a preocupar.  O prefeito e candidato à reeleição Zé do Pacu (PSDB) apresenta uma proposta modesta: dar continuidade as obras de restauração da estação César de Pina, que começaram este ano, na sua gestão como prefeito.

Já a candidata candidata à Prefeitura de Barbacena pelo PSL, Marli Gava, apresenta uma proposta confusa, que oscila entre construção de um “centro comercial” e de um espaço para “feiras livres” no entorno da histórica Estação Ferroviária do município. O foco, porém, parece claro: apagar o passado preservado no que restou do casario do conjunto arquitetônico.

A proposta parte do ponto de vista equivocado de que ali era o ponto de chegadas e partidas do “trem de doido”, que transportava os pacientes psiquiátricos que lotavam o Hospital Colônia. A estação em que os pacientes desembarcavam, entretanto, ficava a alguns quilômetros daquele espaço – reconhecimento muito mais como ponta de lança do progresso e do glamour que Barbacena ostentou em tempos passados.

Além disso, o chamado “trem de doido” nunca existiu como instituição de fato, conforme já esclarecido pela coluna Trem de Minas em reportagem anterior.

* Najla Passos é mineira, jornalista, mestra em Linguagens e Literatura Brasileira e diretora-executiva do Notícias Gerais.

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