Início Gerais Cotidiano COMO PENSAR A EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA NO CAMPO DAS VERTENTES?

COMO PENSAR A EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA NO CAMPO DAS VERTENTES?

Foto: Divulgação/MCTIC

Carol Rodrigues
Notícias Gerais

Muito tem se falado sobre o ensino à distância por conta da pandemia do novo coronavírus. Professores, alunos e pais estão angustiados pelo futuro incerto na formação das crianças e jovens e também pelos novos contornos que a Covid-19 traçou nos cotidianos. Enquanto o governador Romeu Zema (Novo) sinaliza para que as escolas possam retornar com atividades remotas, as instituições tentam se organizar para continuarem com a educação dos estudantes. 

Porém, implementar o ensino à distância (EaD) não é fácil. Para uma estratégia bem sucedida, é necessário investimento e planejamento, tanto em equipamentos, quanto na capacitação dos professores, além de estabelecer um período de adaptação para que mestres e estudantes possam se familiarizar com a nova plataforma. 

Dificuldade de acesso

O Brasil ainda esbarra com outra dificultante: o acesso à internet. De acordo com pesquisa realizada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) em 2018, apenas 70% dos brasileiros tem acesso à internet. Sendo assim, 30% da população fica fora do mundo online

Quando se trata da população rural, os números são ainda menores. Apenas 44% das residências no país possuem acesso à internet. Mas o que isso representa para a educação?

Agora com o distanciamento social implementando por causa da pandemia de Covid-19, as escolas tentam se reestruturar para continuar com atividades não presenciais, principalmente pela internet. Porém, nem todos os estudantes serão capazes de acompanhar os exercícios, porque a internet ainda não é um recurso que chega à totalidade da população brasileira. 

Infográfico: Lucas Maranhão / Notícias Gerais

Em nível regional, essa realidade também se mantém. Barbacena, uma das maiores cidades do Campo das Vertentes, possui 12 distritos que, em sua maioria, são comunidades rurais. Em São João del-Rei, são cinco distritos, com vivências semelhantes. O problema é fazer o ensino à distância chegar a essas comunidades com a mesma qualidade que chegaria nas áreas urbanas.

Barreiras para a implementação

De acordo com Jaqueline de Grammont, docente do Departamento de Ciências da Educação e do Mestrado em Educação da UFSJ e presidente do sindicato dos professores da UFSJ (ADUFSJ), a implementação do EaD no Brasil esbarra em uma série de questões.

É importante pensar na interação como parte fundamental do processo de aprendizado

Além da dificuldade econômica, que impede alguns alunos da rede básica de acessar dispositivos midiáticos, também existe um fator subjetivo. “Todo mundo está muito ansioso, as pessoas estão angustiadas… os professores e os alunos”, considera Grammont. Para a professora, a ansiedade pelo futuro incerto vem tanto por conta da pandemia, das dúvidas na formação dos estudantes e também pela questão econômica, já que os salários dos servidores estaduais estão sendo parcelados. 

Outro fator importante é sobre a questão pedagógica do EaD. Implementar um ensino à distância de qualidade requer investimento, planejamento e pesquisa. Para a professora, é inviável pensar em atividades remotas a curto prazo, já que “o ensino à distância não acontece de uma hora para outra”. “A transposição exige equipamentos, profissionais, capacitação e familiarização com as plataformas”, completa. 

Grammont cita que é importante pensar na interação como parte fundamental do processo de aprendizado. O ensino acontece principalmente no contato entre professor e estudante, entre os próprios alunos e também com o material de estudo.

Preocupações quanto ao ano letivo

Uma dúvida que vem assombrando pais e alunos é em relação ao ano letivo. Com a paralisação das atividades escolares, as incertezas quanto à necessidade de repetir de ano fazem parte do cotidiano dos estudantes. 

No dia 1/4, o governo federal publicou uma Medida Provisória (MP) que estabelece normas sobre o ano letivo da educação básica e do ensino superior frente aos desafios da pandemia. 

De acordo com a MP 934/2020, as escolas da educação básica e as instituições de ensino superior estão dispensadas do cumprimento mínimo de dias letivos em decorrência à Covid-19. Sendo assim, as organizações podem se reestruturar, tendo em vista que não precisam cumprir os 200 dias letivos anuais previstos pela Lei de de Diretrizes e Bases da Educação no País. 

EAD em Barbacena

A Rede Municipal de Educação de Barbacena começará com atividades remotas nesta segunda-feira (27). De acordo com a secretária de Educação, Cacilda Araújo, em vídeo divulgado para a imprensa, o objetivo é que os alunos não percam o vínculo com as escolas durante o período de paralisação causado pela Covid-19. 

“Não haverá conteúdo novo, não é esse o objetivo”

– disse a secretária de Educação de Barbacena, Cacilda Araújo.

O WhatsApp foi escolhido junto aos diretores das instituições como a plataforma pela qual os conteúdos serão passados para os responsáveis pelos estudantes. As atividades vão ser enviadas pela internet e os alunos terão prazo de uma semana para concluírem as tarefas.

“Não haverá conteúdo novo, não é esse o objetivo. O objetivo é que os alunos realizem atividades que vão reforçar o conteúdo que eles já viram na escola de forma presencial, para que quando eles retornarem, não tenham um lapso de tempo muito extenso e corram o risco de esquecerem aquilo que foi objeto dos estudos até a nossa suspensão”, esclarece Araújo.

De acordo com a secretária, a maioria dos pais possui acesso ao WhatsApp, porém não ficou claro de que forma os conteúdos programáticos chegarão àquelas famílias que não conseguem acessar a internet, principalmente nas zonas rurais do município.

“o ensino à distância não acontece de uma hora para outra, a transposição exige equipamentos, profissionais, capacitação e familiarização com as plataformas”

Jaqueline de Grammont, professora do Departamento de Ciências da Educação e do Mestrado em Educação da UFSJ.

Márcia dos Remédios Milagres de Almeida é professora da educação básica na cidade e tem mais de 20 anos de experiência. Ela ministra aulas de Produção de Texto, Literatura, Arte e Ensino Religioso na Escola Municipal Jovelino Jacinto Furtado, localizada na região do Faria – que atende alunos do distrito e também dos bairros São Vicente e Monte Mário.

Na escola, as atividades remotas estão previstas para começar também nesta segunda, com atividades pelo WhatsApp, como orientado pela Secretaria de Educação de Barbacena. Porém, Márcia de Almeida conta que nem todos os pais possuem acesso ao aplicativo e, para atender essas famílias, a escola disponibilizará xerox dos exercícios para que os responsáveis possam buscar e levar aos estudantes. 

Apenas 44% das residências nas áreas rurais no país possuem acesso à internet

“Não sei se todos esses vão à escolar buscar, mas eu estou confiante de que vai dar certo”, conta a professora. De acordo com ela, grande parte dos alunos são de baixa renda e fazem parte da população rural de Barbacena. 

De início, percebendo a dificuldade que os estudantes poderiam ter em acessar o conteúdo via internet, Márcia de Almeida chegou a planejar o envio das atividades via correios. Porém, desistiu da ideia para não expor as famílias ao risco de contaminação por Covid-19.

ENEM

Outro fator de grande preocupação é quanto ao ENEM deste ano. O Exame Nacional do Ensino Médio é a principal porta de entrada para as universidades do país. Com a paralisação das aulas, os estudantes – principalmente da rede pública – podem ser prejudicados. 

Algumas escolas particulares e cursinhos pré-vestibular já começaram com aulas à distância para que os alunos mantenham os estudos. As instituições públicas ainda não retomaram às atividades.

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) alterou somente a data para as provas da versão digital, que agora acontecerão nos dias 22 e 29 de novembro

A aplicação da prova impressa, porém, não foi alterada e continua nos dias 1º e 8 de novembro. A Defensoria Pública da União (DPU) já entrou com ação cível contra o Inep pedindo que o ENEM seja adiado por causa das consequências da pandemia de Covid-19. O órgão, porém, ainda não se manifestou.

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