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“COMECEI A CANTAR POR LIVRE E ESPONTÂNEA PRESSÃO”, AFIRMA CANTOR SÃO-TIAGUENSE, JOÃO PAULO TORÉ, EM ENTREVISTA EXCLUSIVA AO NG

Vibração do rock em lives de quinta (Foto: arquivo / João Paulo Toré)

Douglas Caputo
Especial para o Notícias Gerais

Enfrentar a pandemia de Covid-19 e os desatinos do Governo Federal mexe com os nervos de qualquer um. Não raro, algumas pessoas relatam crises de pânico, transtorno de ansiedade e até depressão. Desacostumados ao isolamento, os sujeitos corroboram que são, antes de tudo, seres sociais.

Embora ocorram por intermédio de dispositivos digitais, os quais simulam o encontro face a face, as lives transmitidas por artistas de diversos segmentos permitem furar o distanciamento social através da internet. Desterritorializada, a audiência dessas apresentações vive um momento mágico de interatividade.

Isso porque o público se reúne a partir do sentimento de pertença a um grupo que partilha e compartilha os mesmos gostos, numa relação catártica de afetividade. É aqui que o virtual ganha materialidade, por assim dizer, e as relações vão além do homem e sua máquina.

Com o objetivo de aliviar a tensão durante a pandemia, o músico são-tiaguense João Paulo Toré apresenta lives desde 26 de março. Com apenas um violão, alguns arranjos que ele próprio produz e sua voz rasgada, Toré embala a tribo que curte diferentes escalas e escolas do Rock’n’roll.

No ar sempre às 20h das quintas-feiras, o cantor gera o streaming a partir de São Sebastião do Paraíso (Sul de Minas), onde mora atualmente. Cenas divertidas, como uma corda que arrebenta no meio de um solo ou lágrimas que caem de saudade da família, estão nas lives de Toré, as quais personificam a socialização dos distanciados.

O músico evita a militância política e não se desvia do caminho do Rock durante as transmissões. Nem por isso fica alienado em relação às – muitas – incertezas brasileiras, seja por meio das entrelinhas presentes nas conversas com o público, seja por meio do repertório que apresenta em cada live.

Live que se tornou solidária pela iniciativa do público. Numa inversão de papéis, a audiência cobrou de Toré formas de contribuir financeiramente com o profissional que não pode subir nos palcos por conta da Covid-19, já que o setor de entretenimento deve ser o último a retomar as atividade pós-pandemia.

Em entrevista exclusiva ao Notícias Gerais, Toré conta sua história com a música, seus projetos futuros e como tem sido produzir shows virtuais que, segundo o músico, surgem como uma forma de “aliviar as angústias do isolamento” ao mesmo tempo que ajudam a recompor a renda por conta da paralisação do segmento artístico.

Notícias Gerais – Quando começou a tocar e quem foram suas influências?

João Paulo Toré –Comecei a ter aulas de violão em meados de 2002/2003 quando tinha uns 14 ou 15 anos de idade, não me recordo da data com exatidão. Apesar de ter tio saxofonista, mãe e avós cantoras (religiosas), o que mais me influenciou foram os amigos que já tocavam ou que, pelo menos, “arranhavam” algum instrumento, cantavam e participavam de bandas em São Tiago. Lembro que, naquela época, eu ia a quase todos os ensaios das bandas Kimew e Novos Rumos, as quais, mais tarde, eu viria a fazer parte.

NG – Conte-nos um pouco sobre o aparecimento do Rock nas suas preferências musicais.

JPT – Sempre achei interessante e chamativo os clips e shows na TV, de todos os estilos. Todos. Mas quando eu via solos de guitarra, vocais rasgados ou agudos, baterias pesadas e marcantes, aquilo mexia demais comigo, a ponto de sair fazendo “air guitar” pela casa. A idade certa, eu não sei, mas comecei a me interessar mesmo e comprar revistas de rock, procurar por bandas e cogitar tocar algum instrumento, foi lá pelos 13 anos. Me lembro bastante de ver na TV trechos do “Rock in Rio 2001”, com bandas já consagradas como Iron Maiden, Guns N´Roses, Red Hot Chili Pepers e aquilo me deixava extasiado. Dez anos depois, em 2011, lá estava eu realizando um sonho de infância e pude ver de perto, ou quase, alguns dos meus “heróis” da música, como Angra, Sepultura, Motorhead, Slipknot e Metallica na Cidade do Rock.

NG – Então foram essas vivências na infância e adolescência que te influenciaram musicalmente?

JPT – De certo modo, sim. Mas estamos sempre descobrindo bandas, músicos novos que vão formando nossos gostos musicais. Eu sou mais da “escola clássica”, digamos assim. Me inspiro muito nas bases que deram origem a todas às vertentes do rock, metal, pop etc., como Black Sabbath, Led Zeppelin, Pink Floyd, Deep Purple, Beatles, Hendrix e por aí vai. Mas não sou totalmente saudosista! Ao longo das décadas, existem várias bandas e artistas que tenho grande admiração e que influenciaram e influenciam muito meu modo de tocar, cantar, produzir, como Rival Sons, Richie Kotzen, Myles Kennedy e, sem contar os nacionais, como Milton Nascimento, Alceu Valença, Project46, Sepultura, Angra e vários outros.

NG – Sua voz, sua relação como os instrumentos atestam uma qualidade musical surpreendente. Você possui formação na área?

JPT – Não. Cheguei a fazer uns dois meses de aulas de violão e coral no Conservatório Estadual de Música Padre José Maria Xavier, em São João del-Rei. No entanto, não deu para continuar por questões de logística quanto ao transporte. Minha “formação” baseia-se em curiosidade, persistência e, acima de tudo, fazer o máximo possível com que eu tenho em mãos. Penso em fazer uma graduação em música brevemente, mesmo porque estou envolvido em um projeto de uma escola musical aqui em São Sebastião do Paraíso (Sul de Minas), onde resido atualmente.

Toré puxa Vagão Progressivo há 12 anos (Foto: Douglas Caputo)

NG – Você afirmou que sua formação reside na “curiosidade”. Relate, então, como você apurou sua técnica no vocal e nos demais instrumentos que toca.

JPT – Antes de responder essa pergunta, vale ressaltar que eu me tornei vocalista por livre e espontânea pressão (risos). Primeiramente, em meados de 2003, fui convidado a tocar violão na banda Kimew, já que era o instrumento que eu tinha começado a estudar. Um tempinho depois, meu professor de violão, Wellington Morais, em parceria com a prefeitura de São Tiago, formou o Centro Cultural, me convidou para ser monitor e tocar na banda desse Centro. A banda era formada basicamente por alunos e ex-alunos do Wellington, além de outros jovens músicos. Éramos todos iniciantes mesmo, entre crianças e adolescentes. Como ninguém queria assumir o contrabaixo, lá fui eu assumi-lo. Um pouco mais tarde, também assumi a guitarra na banda Kimew e aí continuei levando os dois instrumentos em projetos variados.

NG – Mas por que os vocais foram por “livre e espontânea pressão”?

JPT – Brinco que comecei a cantar por livre e espontânea pressão pelo fato de que, em meados de 2008, quando formamos o Vagão Progressivo, não tínhamos vocalista. Eu tocava baixo e como não encontramos ninguém para assumir os vocais, visto que quem era mais apto a cantar era o Paulo Ribeiro, mas que foi para a bateria, propuseram-me assumir os vocais. Mesmo a contragosto, eu fui e estou até hoje. Com toda a sinceridade e sem querer dar uma de “falso modesto”, penso que não sou excelente em nenhum instrumento, tampouco nos vocais, visto que tive que dividir meu tempo entre todos esses instrumentos que toco (violão, baixo e guitarra) e ainda tive uma vida de estudante universitário (dois anos e meio de Engenharia Elétrica, dois anos de Ciência da Computação e um ano de Análise e Desenvolvimento de Sistemas), de funcionário público e de programador, antes de me dedicar exclusivamente à música e às suas variadas vertentes.

NG – Anteriormente, você disse que estava evoluindo em um projeto de uma escola de música. Parece que a escola ainda não foi aberta por conta da pandemia de Covid-19, certo?

JPT – Justamente. As obras para a reforma e adaptação de uma casa iriam se iniciar em março, mas não foi possível devido à pandemia. O idealizador que é o meu amigo e companheiro de banda Rodrigo Gavério (guitarrista da DuoCode, The Gaver e professor de música) daqui de São Sebastião do Paraíso resolveu esperar as coisas se acalmarem e segurar o investimento por esses tempos. Mas, assim que tudo se resolver, nós retomaremos esse projeto. Enquanto isso, dou aulas de baixo e violão pela internet.

NG – A pandemia não só interrompeu a escola, mas também os shows. Você apresenta lives desde o dia 26 de março. Elas têm ajudado na recomposição da renda neste momento de incerteza de retorno do setor de entretenimento?

JPT – Total! Comecei a fazer as lives sem pretensão nenhuma, apenas para reunir os amigos virtualmente, trocar uma ideia, aliviar as angústias do isolamento e tocar mesmo. Foi aí que esse pessoal que me acompanhou na primeira live me deu um toque para desenvolver alguma forma de cobrar um “couvert virtual”, para quem quisesse contribuir. Na verdade, eles aprontaram comigo, no bom sentido: pediram que minha esposa, Isabel Lara, passasse uma conta de banco em meu nome sem eu saber e depositaram uma quantia arrecadada entre eles. Fiquei muito emocionado com essa atitude. Já na segunda live, resolvi colocar alguns meios on-line de contribuição, o que anda dando certo. Quem pode, contribui com o valor que acha justo. Não tem valor pré-fixado e não tem necessidade alguma de contribuir. Fico extremamente grato com todos que acham justo retribuir o tempo que passo com eles tocando toda a semana. Além do aspecto financeiro, esse momento em que faço as lives/shows ajuda a manter a cabeça no lugar em meio a tanto caos. Emociono-me com as mensagens, com os pedidos de música, já chorei ao vivo na semana do dia das mães (risos) e depois descobri que um monte gente chorou junto comigo também. É muito gratificante quando se é reconhecido, a interação, as mensagens de apoio, os seguidores e os novos inscritos, os compartilhamentos, cada like. Fico muito grato mesmo.

NG – Mesmo como as lives voltadas para a recomposição da sua renda, você abriu mão de seu “couvert virtual” em transmissão beneficente para o Albergue de São Tiago, conforme noticiado pelo NG. Por quê?

JPT – Eu fiquei sabendo que eles estavam passando por dificuldades nesses tempos e resolvi ajudar. Sou um pouquinho mais jovem do que os residentes (risos), tenho saúde e estrutura para aguentar essa etapa em que estamos passando. Já eles necessitam de cuidados especiais e assistência especializada. Foi bem legal e prazeroso realizar a live em prol do Albergue São Francisco de Assis, da minha querida cidade natal. Arrecadamos uma quantia considerável e tive relatos de pessoas que se tornaram doadores mensais. Sinto que poderia ter alcançado um público maior se tivesse me sujeitado a tocar estilos musicais mais populares e deixado o meu repertório corriqueiro em segundo plano. Mas a realidade é que não sei me posicionar em meio a esses estilos, realmente não sei tocar e não é o meu propósito como músico. Tem muita gente que já faz, com muita maestria, todos esses estilos mais populares. Só a título de prestação de contas, nessa live, conseguimos os seguintes valores: R$320 pela conta do Sicoob, R$1.490 mil pela conta do Banco do Brasil e R$700 pelas minhas contas do PicPay e MercadoPago, num total de R$ 2.510,00. As doações para o Albergue ainda podem ser feitas da seguinte forma: Sicoob: Cc.: 25.215-8 Banco: 756 Cooperativa: 3173. Banco do Brasil: Cc.: 13.956-4 Ag.: 2666-2 CNPJ: 26.117.903/0001-40. 

NG – Então, para encerrarmos, podemos afirmar que o Rock é mesmo sua praia e que circular por outros estilos está descartado?

JPT – É o que eu gosto de tocar e me sinto confortável. Não digo que outros estilos estejam descartados, até porque já toquei como freelancer e fiz parte de outras bandas de formatura/casamento/baile que tocavam os mais variados estilos como sertanejo, seresta, pop, reggae, dance etc. e, se precisar, faço novamente. Não como frontman, pois não tenho expertise para isso. Mas se for convidado e as condições forem favoráveis, por que não? Como projeto e, sobretudo, como realização pessoal, é mesmo o rock com doses de música brasileira e afins que me faz sentir realizado. Quero aproveitar esse espaço e agradecer a todos que me acompanham e interagem comigo, que dedicam esse tempinho nas lives das noites de quintas-feiras, às 20h, que me aguentam fazendo marketing em suas redes sociais e me dão muita força para continuar nessa luta. Em especial, quero a gradecer a minha esposa Isabel, popularmente chamada nas lives (por mim) de “produção”, que sempre me dá aquele apoio incondicional, muito amor e várias ideias que fazem tudo ficar cada vez mais interessante.

1 COMENTÁRIO

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