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A VIDA POR UM FIO: COMO UMA INOFENSIVA BRINCADEIRA DE CRIANÇA AMEAÇA A VIDA DE PESSOAS E ANIMAIS

Foto: Redes sociais

Carol Oliveira
Especial para o Notícias Gerais

Arrumar atividades para entreter as crianças têm sido um desafio durante o período de isolamento social.  Uma das brincadeiras mais antigas e queridas não só pelos mais jovens, como também pelos adultos, é a de soltar pipa. Mas, esse momento de lazer e descontração, além de acabar gerando aglomerações, pode causar acidentes graves. A linha chilena, feita a partir de quartzo moído e óxido de alumínio, chega a cortar quatro vezes mais do que a linha com cerol. Quando está totalmente esticada, é difícil ter uma visão da mesma e, ao passar em velocidade, ela se torna uma verdadeira guilhotina.

Ana Flávia Guimarães, 21 anos, moradora de São João del-Rei, relembra como foi difícil perder três amigos por esse motivo. “Na época eu morava no Lenheiros, e dois acidentes foram ali, o outro foi perto do trevo do Rio das Mortes. Dois deles estavam andando de bicicleta e um de moto. Nos três casos, o corte foi fatal”. No último dia 18 de junho, Barbara Carvalho, moradora da cidade de Barroso, postou um relato em seu Facebook sobre o que aconteceu com seu pai, um senhor de 74 anos. “Ontem meu pai, vindo do sítio, parou a bicicleta para esperar uma carreta sair do lavador do Joel, no bairro do Rosário e, ao sair, uma linha enrolou na sua garganta e cortou. Um corte profundo e 8 pontos que, se fosse numa moto em vez de uma bicicleta, ele estaria morto”.

Foto: Reprodução / Facebook

Cerol não!

Robson Moraes Almeida criou a Campanha Nacional “Cerol Não!” após sofrer um acidente na MG-170, estrada que margeia a cidade de Lagoa da Prata. O site foi registrado em 28 de setembro de 2004 e têm caráter preventivo e educativo, visando reunir em um único local informações verdadeiras e concretas sobre os perigos do cerol. Além disso, são disponibilizados textos, fotos, imagens educativas, spots para rádios, frases para faixas, frases para criar campanhas publicitárias, roteiro para palestras, entre outros. Nele, inclusive, é possível consultar a  Lei 23.515/2019, que veda a comercialização e o uso de linha cortante em pipas, papagaios e similares.

De acordo com o cabo Giovanni, militar do Corpo de Bombeiros de São João del-Rei, além da lei proibir seu uso, também incrimina os responsáveis pela venda e por menores que se envolverem, notificando os pais ou responsáveis legais e comunicando o caso ao Conselho Tutelar local. ”A maioria dos que estão manuseando esse tipo de material são crianças e adolescentes, então os pais devem ficar atentos ao comportamento dos seus filhos. Além da questão legal, o mais importante é o risco em que a criança ou o adolescente está se colocando e colocando outras pessoas, principalmente motociclistas e ciclistas”, afirma Giovanni.

A pena vai de multa até criminalização, dependendo do dano que pode vir a causar.  Ainda de acordo com o militar, em caso de acidente, os primeiros socorros devem incluir fazer contato imediato com o Corpo de Bombeiros. “Enquanto aguarda o socorro, com um pano limpo, deve-se fazer uma leve pressão sobre o local que está sangrando, para tentar conter a hemorragia, e conversar com a vítima, fazendo o máximo para mantê-la acordada e consciente”, ensina.

Perigo também para os animais

Na manhã da última terça (30), no bairro Bom Pastor, em São João del-Rei, bombeiros resgataram um tucano que ficou preso em uma linha chilena, numa altura de aproximadamente 25 metros. Dois dias depois, na quinta-feira (2), o caso voltou a se repetir no bairro Boa Vista, em Barbacena.

Além dos tucanos, dois gaviões também foram resgatados pelo Corpo de Bombeiros e encaminhados para a clínica Late e Mia, na qual passaram por uma cirurgia aos cuidados da veterinária Gabriela Liguori. “O primeiro, que chegou na segunda, estava com uma lesão muito profunda na asa e já não teria mais como recuperá-la. Foi preciso sedar para fazer a amputação mas, como ele já estava debilitado, não aguentou a anestesia. O segundo teve uma lesão mais superficial, mais fácil de tratar”, conta ela.

Ainda de acordo com Gabriela, a linha chilena traz mais riscos para as aves pois, durante o vôo, elas não conseguem enxergar a linha, que não arrebenta com facilidade e o animal fica enroscado, muitas vezes não conseguindo se desvencilhar. No ato de tentar se soltar, ele se debate e os cortes muitas vezes geram lesões profundas. Além disso, como não conseguem voar e se alimentar, ficam debilitado e, quando caem longe de uma área urbana, não conseguem ao menos ter cuidados médicos para tentar salvá-los.

“O ideal é entrar em contato ou com os bombeiros ou com polícia ambiental, que levam os animais para cuidado médico. Após esse processo, é feita a  triagem dos animais para saber se estão aptos para voltar a natureza, enquanto outros são encaminhados ao Ibama “, finaliza a veterinária.

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